“Agora, vamos falar de um assunto muito sério, que é coleta seletiva...”.
O repórter da TV Globo, em Pernambuco, começa mais uma entre milhares de
matérias sobre meio ambiente na maior e mais influente rede de televisão do
país.
Em menos de quatro minutos, ele mostra para o telespectador a ajuda
inestimável do material reciclável ao meio ambiente. Com um detalhe ainda
melhor: ele pode ser fonte de renda! A matéria, por meio do entrevistado, nos mostra
que atos simples - aqueles cotidianos e negligenciados por todos nós - podem
modificar o mundo.
A reportagem é um alento para o telespectador cheio de culpa por não
contribuir como deveria com a causa ambiental. Afinal, ainda há esperanças de
um futuro melhor. Basta que todos arregacem as mangas, é o que diz a tevê, é o
que diz o “especialista” ouvido pelo repórter, é o que afirmam os governos e as
empresas em que trabalhamos.
Com tanto consenso em torno do tema, não resta dúvidas de que este é o caminho
para a preservação da natureza e a conquista de um modo de vida sustentável.
Correto? Errado! E nós mostramos o porquê.
A culpa não é do “cidadão”
Cotidianamente, as pessoas se questionam: há solução para as causas da
destruição da qualidade do meio ambiente? Os problemas
que afetam o meio ambiente podem ser resolvidos? Não por acaso, diariamente
surgem matérias como a citada acima para dar “resposta” a tantos
questionamentos.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a causa de todos os problemas
ambientais vivenciados hoje, ontem e aqueles que ainda estão por vir não são as
atitudes individuais de cada “cidadão”, como tentam nos convencer diariamente.
Demonizados pela imprensa, pelas empresas e pelos governos, os desperdícios
individuais como lavar a calçada e escovar os dentes mais que cinco minutos estão
longe, muito longe, de representar o verdadeiro vilão do meio ambiente.
Para nós, socialistas, não resta dúvidas sobre quem é o real inimigo da
causa verde e o responsável pelo caos ambiental que vivemos hoje: é o atual
sistema de produção e, fundamentalmente, o modelo de sociedade imposto aos
trabalhadores e trabalhadoras: o capitalismo.
Capitalismo e meio ambiente
não combinam
No capitalismo, os trabalhadores e as trabalhadoras não possuem
ferramentas para cessar as causas dos problemas ambientais, porque quem domina
os meios de produção em larga escala, quem domina os meios de exploração dos recursos
naturais não é o indivíduo e sim o grande agroprodutor, as grandes corporações
mineradoras, petrolíferas e madeireiras. Com o apoio dos banqueiros e governos,
essas corporações dominam a economia e todas as políticas governamentais -
inclusive as ambientais.
É entediante quando a mídia, cúmplice do capitalista explorador de
recursos naturais, produz programas sobre as causas desse ou daquele problema
ambiental. É uma lavagem cerebral cruel que começa desde cedo, com nossas
crianças, que não traz nenhum resultado positivo real para esses problemas.
Esses programas apenas apontam os problemas e aterrorizam acerca do
futuro cada vez mais carente de um meio ambiente saudável e natural. Esses
programas mostram a crescente e incessante destruição e poluição ambiental que
cercam a vida das pessoas onde quer que elas estejam, na cidade, no campo, na praia,
no mangue, no sertão.
A mídia, cúmplice do capital, faz questão de reforçar os problemas e
lançar o desafio ao individuo sobre a solução desses problemas. Ao indivíduo
resta se sentir culpado por nada poder fazer de concreto que traga resultados
reais. A mídia nesse momento lança mão de mais uma estratégia para geração de
lucro ao grande capitalista explorador de matérias primas.
Isso porque tomado por um sentimento de culpa, o consumidor tem a opção
de comprar produtos “verdes”. Que de verdes não têm nada, porque são produzidos
nas mesmas fábricas poluidoras, com tecnologias defasadas para controle de
poluição, que geram exploração de recursos naturais e degradação da qualidade
ambiental, além de explorarem o trabalhador, submetendo-o a condições precárias
de trabalho, com acidentes e exposição a substâncias nocivas.
Os grandes centros de pesquisa e estudo financiados pelos governos e
indústrias só recebem investimentos maciços se o produto a ser desenvolvido
trouxer cada vez mais lucros para o produtor capitalista. Aqueles que querem
desenvolver tecnologias alternativas, ou novas descobertas que tragam
benefícios ao coletivo e meio ambiente, com baixo custo, não recebem
investimento ou recebem baixos investimentos.
Só para citar um exemplo temos a energia solar, mais especificamente no
Brasil onde a incidência solar é uma das maiores na maior parte do ano, as
células fotovoltaicas são as mais caras e complexas tecnologias do mundo. O
investimento na compra ou produção da tecnologia não compensa. Ao final, o uso
da energia solar resume-se a “ser bonito” de utilizar.
Não há muitas opções de produtos que ao serem produzidos tenham gerado
menor impacto ao meio ambiente, como os orgânicos. Quase todos os produtos
disponíveis são industrializados, possuem muito trabalho e exploração embutido,
substâncias nocivas à saúde, grande quantidade de poluição em seu rastro. A
grande maioria da classe trabalhadora que ganha pouco não tem condições de
obter produtos orgânicos, por exemplo, mais caros.
A produção capitalista tem como objetivo único a obtenção de lucro, e
lucro cada vez maior. A lógica é simples: se um produto X é produzido a partir
de investimentos em tecnologias que causam menos impacto ao meio ambiente, mas
geram menos lucro e o produto Y é produzido de acordo com o atual modelo de
produção, causando impacto ao meio ambiente, mas com menor custo e, portanto,
gerando maior lucro, qual será produzido em larga escala pela indústria
capitalista?
A resposta é que o capitalista vai produzir o produto Y porque ele tem
como objetivo único a geração de lucro, e lucro cada vez maior. Se o produto X
é ecologicamente correto, tornando-o mais interessante do ponto de vista da
qualidade ambiental, para o capitalista não faz nenhuma diferença. Exceto caso
você prove a ele que esse produto possa ser mais lucrativo. Ou, em outro
cenário possível, caso prove a ele que uma campanha agressiva sobre
“responsabilidade social” pode fidelizar o consumidor e por, consequência,
chegar no final das contas ao mesmo objetivo: geração de lucro.
As tarefas ambientais são
tarefas do socialismo
As causas de toda a degradação e superexploração dos recursos naturais
só terão fim quando a base da produção deixar de ser a obtenção de lucro. Ou
seja, quando o capitalismo deixar de existir. A partir de então, a exploração
dos recursos naturais se dará de forma sustentável, sem degradação, sem
superexploração. E por um simples motivo: o objetivo não será a superprodução
para obtenção de lucro e lucro cada vez maior, mas será apenas para a
satisfação das necessidades do povo e manutenção dos meios de vida e produção
ao longo das gerações.
Quando determinado recurso estiver em perigo de extinção ou com sua
sobrevivência comprometida, esse recurso não será mais explorado. Ele será
preservado, outra matéria prima ou outra tecnologia será empregada para
produzir o mesmo. Esse recurso será recuperado, preservado, conservado e estará
disponível em quantidade e qualidade para as próximas gerações e para a
manutenção da qualidade de vida e do equilíbrio do meio ambiente.
A base da produção no socialismo não é a superprodução, nem a obtenção
de lucro. A base da produção socialista permitirá a ampla participação social
na tomada de decisões. Seja a forma como será distribuída, o melhor preço, o mais
acessível. Isso permitirá que a produção se mantenha sem que gere excedente de
capital, sem que haja exploração da mais valia do trabalhador, sem que cause a
destruição do meio ambiente. Pelo contrário, a base da produção socialista se
dará de forma que a capacidade de recuperação da natureza seja respeitada.
No socialismo, o trabalhador terá plena satisfação de saber que todo
seu trabalho foi empregado na produção de bens e produtos úteis e com respeito
aos recursos naturais, que nada foi extinto durante a produção, que a qualidade
do meio ambiente onde ele e sua família vivem foi preservada, que a água, o
solo e o ar estão limpos, livres de poluição, porque as fábricas utilizarão as
melhores tecnologias para produção, com menor geração de resíduos, com menor
emprego de substâncias nocivas, com menor exploração dos recursos.
No campo teórico, os ambientalistas conhecem a fundo os problemas:
aquecimento global por efeito estufa acentuado pelas atividades humanas,
derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, morte dos corais, perda de
biodiversidade e ecossistemas naturais, escassez de água potável, problema do
lixo, contaminação da água, solo e ar, acidentes ambientais na indústria,
tráfico de animais e genética, desmatamento entre outros impactos ambientais.
A lista é extensa. Muitos cientistas, ambientalistas e políticos já se
debruçaram sobre essas informações para apontar saídas. Todas elas limitadas,
insuficientes, porque são concebidas e executadas sob o marco do capitalismo. Por
isso, não podemos alimentar ilusões. Como revolucionários, afirmamos com muita
franqueza aos companheiros que militam pela causa ambiental: o socialismo não é
apenas o melhor caminho para a preservação do meio ambiente. É o único caminho
possível.
2 comentários:
os soviéticos planejavam derreter o ártico com energia nuclear para expandirem suas plantações.
vai me dizer que os capitalistas são os únicos a destruírem o meio ambiente?
Soviéticos (stalinismo) ≠ Socialismo (é só ler história). Não é que o Socialismo seja perfeito, mas o capitalismo já provou ser incapaz de respeitar e proteger o Meio Ambiente. Fato é o que vai acontecer em Belo Monte, perdas culturais, biológicas e ambientais inestimáveis e inimagináveis em prol da produção de ridículos MW de energia para meia dúzia de empresas de capital estrangeiro que irão destruir o solo e a floresta amazônica sem precedentes na história do planeta.
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